As manhãs frias de junho costumam marcar o começo da entressafra nos pomares paulistas, mas dois novos nomes prometem mudar esse calendário: as laranjas-doces precoces ‘Kawatta’ e ‘Majorca’. Desenvolvidas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em parceria com o Centro de Citricultura Sylvio Moreira/IAC, a Fundação Citrus, a Citrosuco, a Unesp e a Esalq/USP, essas cultivares chegam ao mercado com a promessa de entregar frutas saborosas e abundantes antes do período tradicional de colheita.
A cadeia citrícola brasileira, responsável por um em cada três copos de suco consumidos no mundo, busca continuamente variedades que aliem produtividade, qualidade industrial e menor risco climático.
Foi nesse contexto que, após décadas de ensaios em pomares de Bebedouro, Itapetininga e outras cidades do cinturão citrícola de São Paulo, ‘Kawatta’ e ‘Majorca’ mostraram desempenho acima de 30 toneladas por hectare, mantendo teor de sólidos solúveis comparável ou superior às campeãs atuais. A seguir, entenda por que essas cultivares despertam tanto interesse entre produtores, indústrias e consumidores.
As variedades precoces são colhidas de maio a agosto, adiantando a oferta de fruta para a indústria exatamente quando o estoque de suco concentrado começa a cair. Isso reduz gargalos e garante preço mais estável ao produtor. No caso de ‘Kawatta’ e ‘Majorca’, os ganhos vão além do calendário:
Esses atributos permitem que a indústria padronize o blend de sucos, mantendo sabor equilibrado ao longo de todo o ano, e oferecem ao consumidor final um produto naturalmente mais doce nas semanas frias do inverno.
Apesar de aparecerem como “novidades”, as duas cultivares têm longa história. ‘Kawatta’ chegou ao Brasil em 1969, vinda do Suriname, e ‘Majorca’ desembarcou na década de 1980 como broto-mãe da Flórida. Desde então, pesquisadores da Embrapa e do IAC conduziram avaliações de rendimento, resistência a pragas, adaptação a climas subtropicais e qualidade do suco em diferentes porta-enxertos.
Com resultados consistentes, a equipe enviou os dossiês ao Serviço Nacional de Proteção de Cultivares, que liberou o registro comercial em 2025. A última etapa, a multiplicação de borbulhas indexadas, está sendo feita em viveiros certificados para garantir mudas livres de vírus e de Huanglongbing (HLB), a doença do “greening”. Assim, produtores poderão adquirir material propagativo ainda no segundo semestre deste ano.
Ao antecipar a safra, ‘Kawatta’ e ‘Majorca’ ajudam a diluir custos fixos de colheita, diminuem a ociosidade das fábricas de suco no início do inverno e criam janelas extras de geração de renda para pequenos e grandes produtores. A adoção, porém, exige planejamento: as árvores são vigorosas, pedem podas de formação, e seu ciclo bienal pode resultar em alternância de produção, exigindo técnicas de regulagem de floração para manter a estabilidade de safra.
Do ponto de vista ambiental, cultivares precoces podem reduzir a necessidade de irrigação em regiões de seca tardia, pois a colheita ocorre antes da fase mais crítica do déficit hídrico. Contudo, a suscetibilidade ao HLB segue como desafio. Isso reforça a importância de programas integrados de controle do vetor, o psilídeo-asiático, e da adoção de mudas certificadas.
Por fim, a introdução dessas variedades dialoga com metas de segurança alimentar ao oferecer matéria-prima de alta qualidade para sucos que abastecem tanto o mercado interno quanto o externo. Cada copo produzido a partir de ‘Kawatta’ ou ‘Majorca’ carrega uma história de pesquisa colaborativa e mostra como a ciência pública, ao lado da iniciativa privada, pode entregar soluções concretas para quem cultiva.
Laranjeira-doce ‘Majorca’: Cultivar precoce e produtiva (Folder digital CGPE 19083). Junho, 2025. Embrapa Mandioca e Fruticultura. (2025).
Laranjeira-doce ‘Kawatta’: Cultivar precoce e produtiva (Folder digital CGPE19082). Junho, 2025. Embrapa Mandioca e Fruticultura. (2025).